Às vezes, enquanto faço a barba - fazê-la, no sentido de lhe fazer exactamente o oposto -, mergulho a mão na água morna, a divorciar, não facilmente, pêlo de lâmina. O quanto tinha acordado perde-se um pouco, com a temperatura. Tento fazer caber nela o pulso, depois o braço até ao cotovelo... Imagino-me caber todo lá, fazer de lavatório piscina, perder-me na imensidão de uma pequenez e de uma irrelevância maiores que as que conheço, e boiar, junto com pedacinhos de espuma e restos de barba de três dias.
Quando amo - a.k.a. "canalizo carências para um alvo específico" - é o mesmo. De tornado complexado com os conceitos enjoados de brincadeira de outros sobre o quão discutível é o 1.66 do quadrado que está no B.I., desejo caber. Do mar, passo a querer banheiras, das banheiras passam a apetecer-me poças esburacadas em más estradas, e mesmo dessas poças às vezes só me satisfaço com gotas a meio sal, enquanto pingam do queixo antes de se perderem para o algodão da almofada.
Resta-me então passar a cara por água gelada, que não acaba nunca, a não ser que falhe a chuva ou feche a torneira, e acordar para a vida. E fazer o mundo caber-me no bolso.
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12 comentários:
Hi Ti,
Premiados com mais um texto espectacular...obrigado!
Barba de três dias...hummmm!very se....!!!
Quanto ao 1.66, nao interessa o tamanho fisico mas sim o tamanho intelectual q cabe nesse fisico...e já agora "o Homem tem a largueza dos horizontes que lhe cabem nos olhos, nos verdadeiros e nos da imaginação.", esta largueza é q é importante.
Continua assim...
Besitos
;-)
miss sardine
"Imagino-me caber todo lá, fazer de lavatório piscina"...criar castelos no ar...o problema é quando falta a àgua, como nos meses de verao, ou qdo alguém, inadvertidamente ou talvez nao, puxa o tampinha do lavatório...ficam os restos de espuma, a tal barba de 3 dias, de vivencias, de memorias q erigimos durante esse tempo.
E aí o q fazer? ou somos radicais e fazemos depilaçao facial definitiva ou deixamos crescer de novo a barba, na esperança de que para a proxima ninguem puxe a talpinha do lavatorio...
Grande texto Ti =) Grande como tu ;)
E fazer o mundo caber-me no bolso.
.......posto isto, que mais podemos dizer?não quereremos nós todos isso?tal como cesario apontou?e é dessa perfeição inatingivel que continuamos todos á procura, mas conseguindo sempre ver algum resticio de beleza num gesto mundano....
boa, mais1 texto inteligente
Bem, continuas a escrever... e bem! Eu ando por aí. Special Hugs
sempre por aí, em poucos sítios que se vejam... obrigado ;)
O vento não se vê, mas tu sente-lo... Não preciso de ser visto. Hugs.
como diria a minha avozita " o teu mal é falta d uma boa açorda e de umas valentes migas alentejanas. ias engordar" ias engordar que nem um animal, ganhar rabo e deixares d t axares pikeninu :P
como diria a minha avozita " o teu mal é falta d uma boa açorda e de umas valentes migas alentejanas. ias engordar" ias engordar que nem um animal, ganhar rabo e deixares d t axares pikeninu :P
Concordo com a tua avozita....vê lá se o convences a ir para casa dela uns tempos ;)......para ver se perde a ideia de ser pekenito....abraço
Belo texto ;)
A Tânia deu-me o endereço do teu blog... Gostei muito da maneira como escreves e daquilo que escreves. :) Gostei de todos os pormenores deste post, de como, para mim, falas daqueles momentos em que nos desligamos do mundo e perdemo-nos temporariamente noutro mundo qualquer... e depois caímos na real e continuamos as nossas vidinhas. Vou estar de olho no teu blog... e se não te importares vou adicionar-te à minha lista de links. :)
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