31.3.05

Prequela

Quando alguém foi um oceano para outrem, ainda que esculpido em cartão de cenário, emoldurado por câmara a ocultar paredes de aquário, tingido de cores para daltónico ver, há algo que prende. Torna-se electicidade estática despejada em portas de carro e maçanetas de metal: descontextualizada, desusada de qualquer propósito tornado vício perdido, deformada, atirada para a vegetaçao na ultrapassagem…mas lá. Com consciência, sendo coisa. Com substância, gaseificada. Inagárravel, impassível d jogar: lançadora de dados.
E eu atirado, lançado à cama em pranto, por umas bolhas de ar na corrente sanguínea. Que podem fugir e rebentar comigo se bem lhes aprouver, só para se fundirem de novo na banalidade azulada da atmosfera.

Parabéns a um ano passado deste crash.

12.3.05

#amigosengates

18 para as 22h em Lisboa. Talvez se prepare para chover, prepara-se o cabelo para sair. Tempo verbal errado. "Preparava-se", em toda a imperfeição e passado da forma corrigida. Fui abandonado. Não, nenhuma ruptura amorosa, apenas (cof) uma enumeração de rupturas temporárias com so-called amigos. Prato do fim-de-semana: amigos inúteis com cônjuges velhos. Gente, não se fartam do lar de 3ª idade para dois residentes? Pois então peguem na bengala, vão à injeccçãozita de botox e façam o favor de provar que ainda não se perderam para o húmus. Ou então parem de prometer, assumam as rugas de uma vez e pronto. Desisto.
Mas não são só esses. Os solteiros tornam todo um cartão de telemóvel pouco passível de ser requisitado a um assaltante que nos aponta a faca à banha. Vão parar não sei onde, ficam convenientemente sem saldo, atrasam-se... Só não se esqueçam de manter um registo das desculpas, para não gastarem a mesma vezes seguidas.

Daí que eu esteja quase determinado a voltar ao irc, ainda que com objecção clara de determinada pessoa, para criar o canal do título: #amigosengates. Assim uma espécie de "one night friends", engatados para a noite em que precisamos de descarregar não as hormonas, mas a vontade de dançar e nos divertirmos, e cujos números de telemóvel se apagam sem pensar meia vez, e que portanto não nos irão desiludir no futuro. Ou isso ou amigos insufláveis. Saem da lata, voltam-se a arrumar durante a semana, e a cada fim-de-semana voltam-se a encher para virem ao Lux connosco, sem nos poderem dizer que o gato está com uma amigdalite e têm que o levar a um xamã na América do Sul porque a medicina veterinária tradicional não resulta. Tarã... Ta ta.

t.

4.3.05

Fim do princípio (das aulas)

Hoje acabei a primeira semana de aulas, com a última apresentação. Tão interessado que estava na minha (in)optativa de 2º semestre que tive que escrever umas coisas sobre ela. Começo com a definição da Porto Editora sobre a ciência:

sociologia s. f. ciência dos fenómenos sociais, que se apoia em dados diversos (...)

O que eu vi, por outro lado, foi pouco mais que uma dança de palavras de marca, divagadas sem corrente, quer de construção frásica quer de pensamento, destrambelhadas e abusivas nas pausas, um nocturno imaginado à última da hora pelo prof. - nocturno como em "livro do mais aborrecido que há, que está na cabeceira para quando a insónia não se vai embora". Uma intelectualidade em toda a sua realidade fútil: distanciada, como que a anti-depressivo, deslumbrada, como que a ganza, com os "estilos de vida" dos sem-abrigo, pela sua liberdade, irreverência, pela sua marcada diferença daquilo que todos queremos para nós próprios, tornando-se, assim, completamente incapaz de ouvir o roncar do estômago há dias no repeat, as roupas escassas, rasgadas, por onde o frio não precisa de pedir licença para se alojar no desalojamento do proprietário. Colonos a observarem índios, com a diferença de que estas pessoas não têm padrões diferentes da sociedade a que, por um bocado, ou aos bocados, pertenceram, e junto da qual convivem, apesar de serem resíduos, como para a Sociologia é residual a área da Vida Quotidiana.

Esta ciência, a mim, parece-me cheia de conceitos e completamente oca de noção às vezes.