25.2.05

Birthplace

Nenhum local mais indicado para dar à luz o meu blog que o local do meu próprio nascimento... Ou então estou tão entediado que ou é isto ou... bem, isto. E a cidade goza comigo, na ironia do nome que tem (Caldas), porque fumo sem cigarro dentro da própria casa, encafuado no roupão, agarrado ao PC e a abstrair-me do sítio que o envolve. E, claro, agarrado às chocolate chip cookies da mãe que teima em engordar o menino... não que ele não coma porcarias a semana inteira.



Anyway, um blog tem que começar com agradecimentos ou dedicatórias, e portanto aqui vão eles:

àquela pessoa que me disse que eu só estava a fazer um blog para não ficar atrás dela, e se esqueceu que, muito pelo contrário, adoro a traseira... (além disso eu acho que estou sempre à frente, acho que já te apercebeste disso ;)

ao "pimo xanoka", sem o qual o meu sarcasmo, segundo ele, não seria nunca sequer concebível... quando voltamos a ler um bocadinho do teu sarcasmo? Já era hora...

ao miúdo Rui, que leu um textito dum log meu pessoal e me mandou abrir uma coisa destas... e é a pensar nele que aqui o "publico" (ok, lá se vão os direitos de autor, e com eles... hum... os sapatos novos?!):

"Estou saturado das relações. Não das minhas. Perdi-as pelo quarto, e devem ter sido aspiradas junto com o cotão. Sê-lo-ão qualquer dia, pelo menos. Bom para os peixinhos de prata, façam bom proveito. Das dos outros.

Por algo que me transcende, as pessoas dentro de relações acham-se a maior bolacha do pacote. Não entendem que, numa relação, são precisos dois para fazer uma bolacha, mesmo que anormalmente maior que as outras, cada um metade, ou tipicamente um as pepitas de chocolate na massa do outro.

Olham-nos com pena, totalidades incompletas, eles, que regrediram dos seres unos que eram e que nós, completando-nos a nós próprios ainda que nos sintamos irónica e egocentricamente metades, continuamos a ser. Vêem-nos, com os olhos que as bolachas não possuem, de dentro das suas bolhas actimel – fossem estas abrigos anti-bomba e não espuma em toda a sua ilusão de esterilidade e realidade cancerígena – e acham-se mais saborosas - pretensão ainda maior que se acharem maiores que as outras -, com ingredientes melhores, cultivados com mais tempo e seleccionados na origem. Como a marca está para a linha branca. Fôssemos nós todos, fora do lobby dos sazonalmente-quase-casados-para-a-vida, mais ingénuos, sem sal vulgo vida própria, e a precisar, portanto, desesperadamente de umas pitadas de.

Claro que se a nós falta sal, eles transbordam mel por tudo quanto é sítio. Sozinhos, acompanhados, dos almoços de família aos transportes públicos, enchem-nos os ouvidos às gotas, ou inteiros baldes, de ruídos de sucção, e nós, os outros, os bocados-de, as migalhas, à espera duma otite bem merecida.

Mas ainda há mais bolachas a comer. É enfardar até ao vómito. Sim, porque as bolachas, depois de se acharem maiores e melhores, acham-se conhecedoras da Receita Universal das Bolachas. Seja a deglutição do instante a primeira saboreada, seja já uma de muitas qualidades e marcas, a Verdade é d’Eles. Também esquece-lá-isso se os fabricantes das meias-bolachas se esqueceram do prazo de validade da saída delas do pacote e o deixaram passar. Quer-me (lhes) parecer condição sine qua non terem ido ao forno, e não serem mastigadas, digeridas, absorvidas e defecadas vezes e vezes sem conta para perceberem alguma coisa da vida. E então tentam-no-la transmitir. Ainda que continue a ser uma página em branco, simplesmente ensalivada até ser mais pasta de papel em branco.

E depois há, sem poder deixar de ser, aquele momento em que querem que tenhamos um cartão de cliente da marca deles apresentando-nos a pessoa mais nada a ver connosco possível - elemento claramente representativo do quanto nos deixaram de conhecer para acharem que somos todos igualmente taxonáveis como desesperados e que portanto qualquer um nos serve, como eles se serviram dos restos da mesa -: é o único em que as nossas realidades se cruzam. Cruzam-se, para nos lembrar da inviabilidade dos nossos cruzamentos. Porque o conjunto de casos possíveis deles se tornou enjoativamente pequeno, e nos culpam pela imensidão, existente ou nem por isso, do nosso. Porque eles são incapazes de dizer “basta”, tal como foram incapazes de dizer “não gosto o suficiente de ti”, da mesmíssima forma que entre um não-dito e outro encobrem a desdita a espátulas de eternidades intervaladas. Porque eles são bolachas, e nós pessoas que se alimentaram excessivamente delas nas nossas depressões forçadas de solidão, e as ultrapassámos. E porque eles o hão-de ser. Outra vez." (17.9.2003)




Não que "encalhado" seja de todo como me defino actualmente, mas ainda assim acho importante que comentem o assunto. Ainda me identifico com a maioria do que escrevi há um ano e qualquer coisa sobre isto, e tendo a afastar-me das generalizações que faço quanto ao actualmente ingroup das pessoas comprometidas. Que pensa quem acabou de ler?

t.